quinta-feira, 29 de novembro de 2012

REMINISCÊNCIAS

“Tá vendo aquela igreja moço?
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Lá sim valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse
Rapaz deixe de tolice
Não se deixe amedrontar Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar” Trecho da música o cidadão de Zé Geraldo 

Nesses dias, um acontecimento me fez garimpar reminiscências de um passado presente que projeta um futuro comum a diversas instituições religiosas. E com nostalgia e melancolia comecei a sacudir os destroços dos escombros do meu acreditar religioso. As instituições religiosas possuem donos!! E muitas destas instituições as portas estão cerradas para Jesus. Os gerentes destas casas religiosas agem com autoridade papal, desabafando enciclicamente nos púlpitos o perfil de seus corações arrogantes e revanchistas. Não tem nada a ver com Jesus, são marionetes das potestades que exploram a fragilidade humana diante dos apelos do ter e do ser. Apressam-se por está no alto do monte para se venderem a glória e o poder que lhe é oferecido.
 
Fui visitar com os irmãos que congrego, uma denominação religiosa ao qual pertenci a três anos atrás. O pastor local ficou insatisfeito com minha presença, embora tivéssemos sido colega de ministério no passado. E no púlpito ficou com ironia e piadinhas, fazendo comparação com uma serpente criada. Isso me fez procurar na minha retentiva do passado o porquê desta atitude tão esdrúxula.
 
...Alguns anos atrás, alguns homens simples, unidos pela fé, se reuniram religiosamente em um ministério (e começaram a implantar “igrejas” templos na periferia de Fortaleza e frentes de trabalhos em interiores como Canindé e Areias (Itatira).
 
Tudo começou na rua verde 9, no Conj. Sítio são João em Messejana. Laicamente formava uma liderança com homens que gostavam de evangelizar e a obra crescia. No Sítio São João, foi comprado um terreno na Av. C, que foi o ponto de partida para o crescimento do ministério. Em pouco tempo tinha congregações espalhadas pelos os bairros: Quintino Cunha; João Arruda(Campus do Pici); Campus Universitário; Parque Santa Cecília, Conjunto Palmeiras; Vila Velha; Barra do ceará; Conjunto metropolitano (Caucaia) e Um trabalho começando em Icaraí(Caucaia). A liderança resolveu politicamente que a sede seria no Campus do Pici, embora a congregação de maior proeminência fosse a do Sítio São João.
 
 Após servir como diácono nove anos na AD Betesda, em 2000 me transferi para AD Campus do Pici, no Sítio São João... Eu amava esta obra, conviver com homens sem muita letra, mais muito amor pelo o evangelho me ensinou muito. Aquele fervor missionário me contagiava. Logo fui fazer parte da Secretaria de Missões (SEMICAMP). A SEMICAMP no Sítio São João era ativa: Em Agosto de 2000 enviamos o missionário José Ivanildo para Canindé; Em Setembro de 2000 enviamos o missionário Francisco Ricardo para o conj. Palmeiras; Em 2001 promovemos e patrocinamos várias cruzadas evangelísticas; Ajudamos no envio do missionário Paulo Donato para Sobral. Ajudávamos na manutenção da obra em Itatira-Ce.
 
Com a construção da sede no bairro de João Arruda (Campus do Pici), e o crescimento da obra, o estilo de administrar estava passando por céleres mutações. De um colegiado de pastores e presbítero, para um episcopado patológico a ponto de revogar o estatuto sem a prévia comunicação ao corpo de obreiros. Havia muito interesse financeiro e político. Atenuou a efervescência missionária que se tinha no início, buscava-se tirar proveitos financeiros com associação política a cada eleição. O pastor presidente sob a alegação de prebenda atrasada negociou a denominação com uma filial de uma multinacional americana.
 
E continuando com minhas lembranças, foquei-me na última reunião de ministério na sede, no bairro de João Arruda... Naquele dia senti um impacto com a mudança brusca no tratamento que foi dado ao corpo de obreiros. Como era de costume, havia um pré-reunião da diretoria da instituição na sexta-feira e no Domingo era comunicado ao quadro de obreiros o que se havia decidido. Éramos apenas coadjuvantes que estavam ali para serem informados das decisões tomadas.
 
Naquele dia foi diferente, o Pastor presidente introduziu o seu discurso afirmando: - Vocês são um plenário e estão aqui para decidir. Pelo estatuto chegou o momento de ter eleição para Pastor Presidente e como sei que ninguém tem capacidade para assumir a presidência do ministério, resolvemos escolher a nova diretoria. Esta é a nova diretoria – apontando para um grupo de irmãos e em seguida continuou:
 
 - quem é contra esta diretoria, quem é contra os irmãos que estão aqui levante a mão. Levantei a mão. Olhei em minha volta, ninguém mais tinha levantado a mão. (teria a serpente nascido ai?)
 
De repente dois pastores que estavam na tribuna levantaram a mão, eu não estava mais sozinho. Era o pastor Raimundo Souza e o Pastor Francisco Leite. Em seguida o pastor Raimundo Souza pede a palavra, que lhe é concedida e se pronuncia:
 
- Não sou contra a diretoria, nem contra os irmãos que fazem parte da diretoria, eu amo os irmãos. Eu sou contra não cumprir o estatuto, se no estatuto está escrito que é tempo de ter reunião para pastor presidente então vamos fazer!(esta era a minha mesma visão)
 
O clima ficou tenso, o pastor presidente nervoso falou:
 
- Se é prá ter eleição pra pastor presidente, vamos fazer. Quem se candidata? Tem que ser pastor consagrado! – fez aquela pressão psicológica.
 
Para seu desespero, o pastor Francisco Leite levantou a mão e disse que se candidatava. Então o pastor presidente arranjou uma maneira de burlar o estatuto e não fazer a eleição. Pediu para que se distribuísse um papel para os obreiros escrevem em que o ministério devia melhorar, com menos de 3 minutos os obreiros passaram recolhendo o papel. Pedi tempo, escrevi frente e verso, embora sabendo que aquilo nunca seria lido, aquilo era apenas uma manobra para tirar o “plenário” do foco – a eleição para pastor presidente.
 
Por que não queriam cumprir o estatuto e fazer eleição? Porque a igreja já estava negociada com uma multinacional americana, isto fica claro nos meses subsequentes. Os pastores das igrejas mais rentáveis que não fazia parte do esquema foram trocados, e no seu lugar foi colocado algum parente ou alguém muito próximo do pastor presidente. A maior parte dos obreiros foi subornada pelo o status, muitos diáconos e presbíteros foram consagrados a pastor, o que na Assembléia de Deus para isto acontecer é uma caminhada árdua. Muitos pastores receberam dinheiro americano para reforma dos templos.
 
 Na negociação, a antiga Assembleia de Deus Campus do Pici foi extinta, ficando com outra placa no seu lugar. E aqueles que acreditavam nesta obra...? Aqueles que deram duro na construção do templo sede? E as congregações que tiveram todos os seus recursos drenados para construção do templo sede?
 
 Restam apenas adaptar os versos do Zé Geraldo e dizer: Tá vendo aquela “igreja” moço? Onde o ”pastor” diz amém. Tem servo e tem vassalo. Enchi minha mão de calo. Lá eu trabalhei também. Lá tem muita festa, mas não sou bem-vindo lá. Foi lá que Cristo me disse: Rapaz deixe de tolice. Não se deixe amedrontar. Fui eu quem criou a terra. Enchi o rio fiz a serra. Não deixei nada faltar. Hoje o homem criou asas. E na maioria das “igrejas” Eu também não posso entrar. 
 
 
 
Marcos Avelino