quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

SOTERIOLOGIA I - UMA INTRODUÇÃO A DOUTRINA DA SALVAÇÃO

UMA INTRODUÇÃO ADOUTRINA DA SALVAÇÃO

Como introdução ao assunto salvação, tentarei expor de maneira sucinta a queda do homem, a necessidade de salvação e o plano de Deus para a reconciliação do homem.

"1Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim? 2E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, 3Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais.

4Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. 5Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal. 6E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela.7Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.

8E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. 9E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás? 10E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me. 11E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses? 12Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi.

13E disse o Senhor Deus à mulher: Por que fizeste isto? E disse a mulher: A serpente me enganou, e eu comi.

14Então o Senhor Deus disse à serpente: Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a fera, e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida. 15E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.

16E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará.

17E a Adão disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. 18Espinhos, e cardos também, te produzirá; e comerás a erva do campo. 19No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás.

20E chamou Adão o nome de sua mulher Eva; porquanto era a mãe de todos os viventes.

21E fez o Senhor Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu.

22Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente,23O Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado. 24E havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida."(Gn 3)

1 - Como o homem perdeu a comunhão com Deus ?

O Eterno criou o homem e o colocou no Jardim do Éden para lavrar e guardar. O homem deveria ser obediente a uma regra - não comer da árvore da ciência do bem e do mal. A consequência da quebra dessa regra era a morte. (Gn. 2:15-17).

Deus criou o homem a sua imagem, conforme a sua semelhança, e o colocou no éden para deleitar-se do paraíso a sua disposição. Deus lhe deu também poder para dominar sobre todas as coisas, o Eterno havia criado as condições propícias para o homem viver em plena felicidade para sempre. E enquanto o homem estava em estado de obediência o Criador tinha plena comunhão com ele e passeava no Jardim do Éden.

O soberano não estabeleceu condições ao homem para obediência, nem o impediu de comer da árvore do conhecimento. Deus deu ao homem a opção de escolher. Apenas informou o que o homem não deveria fazer e qual seria a penalidade por infligir esta advertência. Será que Deus na sua soberania deu o livre arbítrio ao homem?

A Serpente declarou que o que Deus dissera a Adão não era verdade (v 3-4) e destruiu a fé que Eva tinha no que Deus dissera, causando dúvidas contra a palavra divina. Ela ( a serpente) aguçou os desejos da mulher em conhecer o que o Senhor Deus havia proibido. Fez a mulher crer que ela seria como Deus, decidindo por conta própria o que é bom e o que é mal.  Em nosso tempo, o ser humano como fez Eva, procura obter conhecimento moral e discernimento ético partindo de sua própria mente e desejos, e não da palavra de Deus.

A mulher vendo que a árvore era desejável, agradável aos olhos, tomou do seu fruto, comeu e deu ao seu marido e ele também comeu (v 6). O pecado havia se consumado, e a morte entrado no homem pelo pecado. E por causa do pecado, Deus amaldiçoou a criação que Ele fizera a sua imagem (v 16-19) Gn 5:29 Rm 8:22.

 A promessa de viver para sempre havia se encerrado no momento em que praticaram o pecado. O homem estava morto, não só espiritualmente, mas também a morte física passou a fazer parte do quotidiano da humanidade. Quando Adão e Eva pecaram, sua morte moral e espiritual ocorreram instantaneamente, ao passo que a morte física veio posteriormente (Gn 5:5). A morte  moral consiste na morte da vida de Deus dentro deles, quando sua natureza se tornou pecaminosa; a morte espiritual destruiu a comunhão que antes tinham com Deus.

Depois do pecado de Adão e Eva , toda pessoa ao nascer, entra nesse mundo com sua natureza pecaminosa.  Como está escrito em Rm 5:12 "Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram." Essa corrupção da natureza humana abrange o direito inato da pessoa seguir seu próprio caminho egoísta, ingnorando a Deus e ao próximo, e é transmitida a todos os seres humanos. Leia Gn 6:5 e 8:21.

"Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; Com as suas línguas tratam enganosamente; Peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; Cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; E não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos".( Rm 3:10-18)

Obs. Não estou afirmando que todos pecaram quando Adão pecou e nem que a culpa de seu pecado foi imputada a toda raça humana, mas que Adão deu origem a lei do pecado e da morte sobre  a totalidade da raça humana. "Porque assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem. Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo" (I Co 15:21-22).

Deus é Santo e Justo, e como escreveu profeta Isaias que o pecado é que faz a separação entre nós e nosso Deus. O homem perdeu a comunhão com Deus e o Eterno o expulsou do Éden e pôs querubins ao oriente e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida (v 24). O homem que fora criado para dominar e viver para sempre, estava terminantemente separado de Deus pela sua insubordinação. Os anjos que o Senhor colocou ao redor do Paraíso impedia que o homem, atualmente na condição de pecador vivesse para sempre. O homem agora conheceria a morte física, e onde o homem passaria a eternidade já que tinha jogado a oportunidade de viver eternamente em comunhão com o Criador?. Agora o homem se escondia de Deus (v 8)

A terra foi amaldiçoada e com isso vieram todos as mazelas que conhecemos hoje, o homem ficou vulnerável as doenças, angústias e aflições. A fome, a miséria, e agonia passaram a fazer parte do cotidiano da humanidade, Satanás estava com o domínio sobre o homem que vivia agora sob a maldição do pecado. E por isso que o Novo Testamento o chama de "o príncipe deste mundo" (Jo 14:30; II Co 4:4 e I Jo 5:19). De dominador o homem passou a condição de escravo, Satanás passou a afligir a humanidade caída.

Deus trouxe juízo sobre a serpente (v 14), a mulher (v16) a Terra (v 17-18) e a Adão (v 19). E todo o homem que continuar em desobediência a Deus sofrerá os juízos de Deus e a separação eterna do seu criador. Pois o nossos pecados como o pecado de Adão nos separa de Deus. Precisamos de reconciliação com Deus e Salvação.
 

2 - O que é Salvação?

A palavra salvação no grego traz uma idéia de triunfo, cura, ou preservação.  Salvação é a libertação do perigo ou sofrimento dos juízos de Deus sobre o pecado e da escravidão eterna e espiritual.
 

3 - De que nos seremos Salvos?

Seremos salvos da separação eterna de Deus  e dos julgamentos de Deus sobre o pecado " Logo muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. " (Rm 5:9). "Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para a aquisição da salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo" (I Ts  5:9).
 

4 - Qual o Plano de Deus para sermos Salvos?

O texto acima encontramos três grande eventos do Criador mostrando o seu plano para salvação e reconciliação do homem. O Senhor Deus poderia ter abandonado o homem no pecado pela sua desobediência e rebeldia, mas não o fez, apesar da sua tristeza, não desistiu de lhe dar uma nova oportunidade para a salvação.

O primeiro evento se encontra no verso 15,. aqui ha uma previsão da vitória final da raça humana e de Deus contra Satanás e o mal. É a profecia do conflito entre a semente da mulher (Jesus Cristo) e a semente da serpente (Satanás e seus seguidores). Neste versículo há implícita a promessa que Cristo nasceria de uma mulher, como profetizou Isaias (Is 7:14) e que Ele seria ferido ao ser crucificado, porem ressuscitaria dentre os mortos para destruir completamente os planos de Satanás, o pecado e a morte, para salvar toda a humanidade. Is 53:5; Mt 1: 20-23

O segundo esta no verso 21 quando Deus faz túnicas de pele para Adão e sua Mulher. Para Deus fazer túnicas de pele, um animal teve que ser sacrificado. Isso Tipificava que o Senhor ofereceria o Seu único filho em expiação para resgatar o homem da maldição do pecado e lhe ofertar a libertação e a vida eterna. Essa figura de um animal sacrificado para cobrir o pecado do homem foi uma tipologia de Jesus em toda a velha aliança.

Foi assim com o cordeiro pascal, que deveria ser sem defeitos e não podia ter seus ossos quebrado, e que devia ser separado antes e imolado no crepúsculo da tarde. (Ex 12) Assim Jesus, sem defeito, sem pecado, foi separado antes, foi imolado na mesma hora em que o cordeiro pascal era imolado, não teve nenhum dos seus ossos quebrados. Naquela época todo prisioneiro que era crucificado tinha os seus ossos quebrados. Jesus foi a exceção. Ele foi transpassado. Por isso que o apóstolo Paulo em I co 5:7 afirma que Cristo a nossa páscoa foi sacrificado por nós.

O cordeiro que era sacrificado no tabernáculo e no templo para remissão dos pecados de Israel também tipificava Jesus, João quando viu Jesus disse " eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo".

"Andávamos como ovelhas desgarradas; cada um se desviava pelo seu caminho, mas o Senhor fez cair sobre Ele à iniquidade de nós todos. Ele foi oprimido, mas não abriu a boca; como um cordeiro, foi levado ao matadouro e, como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, Ele não abriu a boca.".(Is 53:4 a 7)

"Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuro, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação, nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção."(Hb 9:11, 12 )

"Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela sua vida. E não somente isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconciliação.

Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram. Porque até à lei estava o pecado no mundo, mas o pecado não é imputado, não havendo lei. No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não tinham pecado à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir.

Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa. Porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça, que é de um só homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos. E não foi assim o dom como a ofensa, por um só que pecou. Porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação. Porque, se pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo. Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida.

Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos. Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça; Para que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reinasse pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor"( Rm 5:3-21)

O terceiro evento está no v 18  quando o Senhor amaldiçoou a terra e disse: "Espinhos, e cardos também, te produzirá", Jesus Quando foi sacrificado na cruz do calvário levava sobre sua cabeça uma coroa de espinho. Isso significa que a maldição que nos deveíamos sofrer ele também levava sobre sua cabeça no madeiro. Portato a reconciliação com Deus é completa e a salvação perfeita através de Jesus.

 

Até Breve.

Marcos Avelino.

 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

SOTERIOLOGIA

DOUTRINA DA SALVAÇÃO

"Então disse o Senhor a Moisés: Aquele que pecar contra mim, a este riscarei do meu livro.
Vai, pois, agora, conduze este povo para onde te tenho dito; eis que o meu anjo irá adiante de ti; porém no dia da minha visitação visitarei neles o seu pecado.
"Êxodo 32:33-34.

No contexto do texto acima encontramos um predestinado intercedendo com o soberano e eterno Senhor por toda um povo apóstata. O Soberano afirma que riscará do seu livro todo aquele que pecar contra Ele, e manda o predestinado a continuar a sua missão predestinada, mas promete que no dia de sua visitação vingaria neles o seu pecado. O Eterno feriu ao povo, porque fizeram um bezerro de ouro.

Com relação a soteriologia há muitas indagações como: Um cristão pode perder a salvação? Um cristão que morre desviando ainda é salvo? É possível que o nome de uma pessoa seja apagado do livro da vida? Deus escolheu pela soberania divina alguns para a salvação e outros para a perdição? A soberania de Deus e o livre arbítrio do homem são excludentes? Se a salvação depende do homem onde fica a soberania de Deus? Se Deus já determinou anteriormente tudo que desenrolaria com o homem no tempo e no espaço, inclusive a salvação de alguns e a perdição de outros, então qual o papel do evangelho cujo o princípio é religar o homem a Deus? Se o Messias veio salvar a humanidade como se justifica a existência de um grupo de eleitos? Com a graça resistível a vontade de Deus não fica cativa a vontade do homem? No eterno debate e entre Calvinistas e Arminianos, quem está correto?

Este ano inteiro estarei postando sobre alguns questões da soteriologia explorando os cinco pontos do Calvinismo e Arminianismo. Tratarei do tema utilizado da regra básica da hermenêutica - A bíblia explica a bíblia. Analisarei os contextos e farei um paralelo de ideias e ensino gerais.

Estarei  fazendo um resumo histórico como os primeiros pensadores da igreja pensavam sobre o livre-arbítrio e a predestinação: JUSTINO MÀRTIN; IRINEU; ATENÁGORAS DE ATENAS; TEÓFILO DE ANTIOQUIA; TACIANO DA SÍRIA; BARDESANO DA SÍRIA; CLEMENTE DE ALEXANDRIA; TERTULIANO; NOVACIANO DE ROMA; ORÍGENES; METÓDIO; ARQUAELAU; ARNÓBIO DE SICCA; CIRILO DE JERUSALÉM; GREGÓRIO DE NISSA; JERÔNIMO; JOÃO CRISÓSTOMO; AURÉLIO AGOSTINHO;  ANSELMO; TOMÁS DE AQUINO; JOÃO CALVINO E JACOB ARMÍNIO.

Colocarei a salvação como no contexto das escrituras, incluindo tanto o perdão do pecado passado, assim como a libertação do pecado presente, e a preservação contra as invasões do pecado no futuro. Jo 11: 24-25; Tt 2;11-13.

Até em breve

Marcos Avelino

sábado, 1 de fevereiro de 2014

PORQUE SAMUEL APARECE QUANDO SAUL CONSULTA A FEITICEIRA DE EN-DOR SE A BÍBLIA CONDENA A MEDIUNIDADE?


 " Samuel já estava morto, e todo o Israel o tinha chorado, e o tinha sepultado em Ramá, que era a sua cidade; e Saul tinha desterrado os adivinhos e os encantadores.
E ajuntaram-se os filisteus, e vieram, e acamparam-se em Suném; e ajuntou Saul a todo o Israel, e se acamparam em Gilboa.
E, vendo Saul o arraial dos filisteus, temeu, e estremeceu muito o seu coração.
E perguntou Saul ao Senhor, porém o Senhor não lhe respondeu, nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas.
Então disse Saul aos seus criados: Buscai-me uma mulher que tenha o espírito de feiticeira, para que vá a ela,
e consulte por ela. E os seus criados lhe disseram: Eis que em En-Dor há uma mulher que tem o espírito de adivinhar.
E Saul se disfarçou, e vestiu outras roupas, e foi ele com dois homens, e de noite chegaram à mulher; e disse: Peço-te que me adivinhes pelo espírito de feiticeira, e me faças subir a quem eu te disser.
Então a mulher lhe disse: Eis aqui tu sabes o que Saul fez, como tem destruído da terra os adivinhos e os encantadores; por que, pois, me armas um laço à minha vida, para me fazeres morrer?
Então Saul lhe jurou pelo Senhor, dizendo: Vive o Senhor, que nenhum mal te sobrevirá por isso.
A mulher então lhe disse: A quem te farei subir? E disse ele: Faze-me subir a Samuel.
Vendo, pois, a mulher a Samuel, gritou com alta voz, e falou a Saul, dizendo: Por que me tens enganado? Pois tu mesmo és Saul.
E o rei lhe disse: Não temas; que é que vês? Então a mulher disse a Saul: Vejo deuses que sobem da terra.
E lhe disse: Como é a sua figura? E disse ela: Vem subindo um homem ancião, e está envolto numa capa. Entendendo Saul que era Samuel, inclinou-se com o rosto em terra, e se prostrou.
Samuel disse a Saul: Por que me inquietaste, fazendo-me subir?
Então disse Saul: Mui angustiado estou, porque os filisteus guerreiam contra mim, e Deus se tem desviado de mim, e não me responde mais, nem pelo ministério dos profetas, nem por sonhos; por isso te chamei a ti, para que me faças saber o que hei de fazer.
Então disse Samuel: Por que, pois, me perguntas a mim, visto que o Senhor te tem desamparado, e se tem feito teu inimigo?

Porque o Senhor tem feito para contigo como pela minha boca te disse, e o Senhor tem rasgado o reino da tua mão, e o tem dado ao teu próximo, a Davi.
Como tu não deste ouvidos à voz do Senhor, e não executaste o fervor da sua ira contra Amaleque, por isso o Senhor te fez hoje isto.
E o Senhor entregará também a Israel contigo na mão dos filisteus, e amanhã tu e teus filhos estareis comigo; e o arraial de Israel o Senhor entregará na mão dos filisteus.
E imediatamente Saul caiu estendido por terra, e grandemente temeu por causa daquelas palavras de Samuel; e não houve força nele; porque não tinha comido pão todo aquele dia e toda aquela noite.
Então veio a mulher a Saul e, vendo que estava tão perturbado, disse-lhe: Eis que a tua criada deu ouvidos à tua voz, e pus a minha vida na minha mão, e ouvi as palavras que disseste.
Agora, pois, ouve também tu as palavras da tua serva, e porei um bocado de pão diante de ti, e come, para que tenhas forças para te pores a caminho.
Porém ele o recusou, e disse: Não comerei. Porém os seus criados e a mulher o constrangeram; e deu ouvidos à sua voz; e levantou-se do chão, e se assentou sobre uma cama.
E tinha a mulher em casa um bezerro cevado, e se apressou, e o matou, e tomou farinha, e a amassou, e a cozeu em bolos ázimos.
E os trouxe diante de Saul e de seus criados, e comeram; depois levantaram-se e partiram naquela mesma noite."

1 Samuel 28:3-25

Há bastante polêmica com relação a interpretação deste texto. Saul pede a uma feiticeira invocar o espírito de Samuel. Conforme textos bíblicos anteriores,  Deus condena esta prática. Samuel condena esta prática, o próprio Saul como afirma o verso 3 havia expulso os adivinho e encantadores, então como explicar este texto?. Vejamos como o comentarista Russell Shedd explica este texto.

A mediunidade é pecado gravíssimo, condenado pela Bíblia de ponta a ponta, e é castigada com a pena máxima, pena de morte no Antigo Testamento e a condenação eterna no Novo Testamento (Lv 20.27; Dt 18.10-12; At 16.18; Ap 21.8). Dizer que Deus permitiu o aparecimento de Samuel mediante a pitonisa (1Sm 28.11), é afirmar que Deus permitiu a Samuel pecar gravemente. Consultar os "mortos", ou os falsos mortos, é pecado igual ao de feitiçaria e ao de idolatria (1Sm 15.23a). É pecado cuja prática Deus não permitiu a ninguém, absolutamente a ninguém, e muito menos a Samuel, que era o segundo dos profetas, quanto à importância, depois de Moisés no A.T. (Jr 15.1).

A crônica de 1Sm 28.7-25 fora escrita por uma testemunha ocular: logo, por um dos servos de Saul que o acompanhara à necromante (1Sm 28.7,8). Frequentemente, esses servos eram estrangeiros (1Sm 21.7; 26.6; 2Sm 23.25-39) e quase sempre supersticiosos, crentes no erro (1Sm 28.7) - razão por que o seu estilo é tão convincente. Esta crônica que é parte da história de Israel, pela determinação divina, entrou no Cânon Sagrado. E deve estar lá, como lá estão os discursos dos amigos de Jó (Jó 42.7), as afirmações do autor de "debaixo do sol" (Ec 3.19; 5.18; 9.7,9,10 etc.), a fala da mulher de Tecoa (2Sm 14.2-21) etc. - palavras e conceitos humanos. (Infelizmente, esta crônica é interpretada por muitos sob o mesmo ponto de vista do servo de Saul). Analisando-se o caso, não negamos a sinceridade da mulher (1Sm 28.11-14): também a moça de At 16.16-18 foi sincera. Nem tão pouco recorremos à interpretação parapsicológica (que é possível), mas diretamente à Bíblia que, em si mesma, tem os argumentos necessários, para desmentir as afirmações do servo de Saul. Antes, porém, vejamos a palavra médium (1Sm 28.6, heb ob), que é traduzida em outras versões por "espírito adivinhador", ou "espírito familiar" e no texto grego (LXX) por (engastrimuthos) "ventríloquo" (um de fala diferente), palavra que indica a espécie de pessoa usada por um desses "espíritos". 

1) Argumento Gramatical (1Sm 28.6). ... o Senhor... não lhe respondeu. O verbo hebraico é completo e categórico. Na situação presente de Saul, Deus não lhe respondeu, não lhe responde e não lhe responderá nunca. O fato é confirmado pela frase: "... Saul interrogara e consultara uma necromante e não ao Senhor..." (1Cr 10.13-14). 

2) Argumento Exegético (1Sm 28.6): Nem por Urim - revelação sacerdotal (ver 1Sm 14.18); nem por sonhos - revelação pessoal; nem por profetas - revelação inspiracional da parte de Deus. Fosse Samuel o veículo transmissor, seria o próprio Deus respondendo, pois Samuel não podia falar senão pela inspiração. E, se não foi o Senhor quem falou, não foi Samuel. 

3) Argumento Ontológico: Deus se identifica como Deus dos vivos: de Abraão, de Isaque, de Jacó etc, (Êx 3.15; Mt 22.32). Nenhum deles perdeu a sua personalidade, integridade, ou superego. Seria Samuel o único a poluir-se, indo contra a natureza do seu ser, contra Deus (1Sm 28.6) e contra a doutrina que ele mesmo pregara (1Sm 15.23), quando em vida nunca o fez? Impossível. 

4) Argumento Escatológico: O pecado de Samuel tornar-se-ia mais grave ainda, por ter ele estado no "seio de Abraão" e tendo recebido uma revelacão superior e um conhecimento mais exato das coisas encobertas, e, por não tê-las considerado, nem obedecido as ordens de Deus (Lc 16.27-31). Mas Samuel nunca desobedeceu a Deus (1Sm 12.3-4). 

5) Argumento Doutrinário: Consultar os "espíritos familiares" é condenado pela Bíblia inteira (ver 1Sm 28.3). Fossem os espíritos de pessoas, Deus teria regulamentado a matéria, mas como não são, Deus o proibiu. Aceitando a profecia  do  pseudo-Samuel, cria-se uma nova doutrina, que é a revelação divina mediante pessoas ímpias e polutas. E nesse caso, para serem aceitas as afirmações proféticas, como verdades divinas é necessário que sejam de absoluta precisão; o que não acontece no caso presente (Vejam como são precisas as profecias a respeito de Cristo: Zc 9.9 e Jo 12.15; Sl 22.18 e Jo 19.24; Sl 69.21 e Jo 19.28-29; Êx 12.46; Nm 9.12; Sl 34.20 e Jo 19.36; Zc 12.10; Jo 19.37 etc). 

6) Argumento profético (Dt 18.22): As profecias devem ser julgadas (1Co 14.29). E essas, do pseudo-Samuel, não resistem ao exame. São ambíguas e imprecisas, justamente como as dos oráculos sibilinos e délficos. Vejamos: a) Saul não foi entregue nas mãos dos filisteus (1Sm 28.19): A profecia é de estilo sibilino e sugeria que Saul viria a ser supliciado pelos filisteus. Mas o fato é que Saul se suicidou (1Sm 31.4), e veio parar nas mãos dos homens de Jabes-Gileade (1Sm 31.11-13). Saul apenas passou pelas mãos dos filisteus. Infelizmente, o pseudo-Samuel não podia prever esse detalhe. (Vejam como são precisos os detalhes acima a respeito da pessoa de Cristo). b) Não morreram todos os filhos de Saul ("... tu e teus filhos", 1Sm 28.19), como insinua essa outra profecia obscura: Ficaram vivos pelo menos três filhos de Saul: Is-Bosete (2Sm 2.8-10), Armoni e Mefibosete (2Sm 21.8). Apenas três morreram, como indicam clara e objetivamente as passagens seguintes: 1Sm 31.2,6 e 1Cr 10.2,6.

c) Saul não morreu no dia seguinte ("... amanhã... estareis comigo", 1Sm 28.19): Esta é uma profecia do tipo délfico, ambígua. Saul morreu cerca de dezoito dias depois (ver 1Sm 30.1,10,13,17; 2Sm 1.3). Citar em sua defesa Gn 30.33 e Êx 13.14 e afirmar que a palavra hebraica mahar, "amanhã", aqui, é de sentido indefinido, é torcer o hebraico e a sua exegese, pois todos vão morrer, mesmo, em "algum dia" no futuro; isto não é novidade.

d) Saul não foi para o mesmo lugar de Samuel ("... estareis comigo", 1Sm 28.19). Outra profecia délfica. Interpretar o "comigo" por simples "além" (sheol), é tergiversar. Samuel estava no "seio de Abraão", sentia isso e sabia da diferença que existia entre um salvo e um perdido. Jesus também o sabia, e não disse ao ladrão na cruz: "...hoje estarás comigo no "além" (sheol), mas sim, no "Paraíso" (Lc 23.43). Logo, Samuel não podia ter dito a Saul, que este estaria no mesmo lugar que ele: no "seio de Abraão". Se Samuel tivesse desobedecido a Deus (1Sm 28.16-19), passaria para o inferno, para estar com Saul? Ou então, Saul, ainda que transgredindo a palavra de Deus e consultando à necromante (1Cr 10.13), passou para o Paraíso, para estar com Samuel? Inacreditável.

Solução: - Quem respondeu a Saul? Sugerimos a seguinte possível explicação. A Bíblia fala de certos "espíritos", sua natureza e seu poder (Êx 7.11,22; 8.7; At 16.16-18; 2Co 11.14-15; Ef 6.12). São os anjos maus. Do mesmo modo fala de anjos que acampam ao nosso redor e nos guardam (Sl 34.7; Mt 18.10; Lc 15.10 etc.). São os anjos bons. São dois, os "secretários" (senão mais) que nos acompanham durante a vida toda; um bom e outro mau. Anotam tudo e sabem tudo a nosso respeito. Depois da morte, o anjo bom leva o nosso livro-relatório, diante de Deus, pelo qual seremos julgados (Ap 20.12). Por sua vez, o anjo mau assume a nossa identidade e representa-nos no mundo, através dos médiuns. Onde revela o nosso relatório com acerto e "autoridade". É por isso que Paulo fala da luta que temos contra "as forças espirituais do mal" (Ef 6.12). E é pela mesma razão que Deus proíbe consultas aos "mortos" (Is 8.19,20), porque estes são falsos "Quando entrarem na terra que o Senhor, o seu Deus, lhes dá, não procurem imitar as coisas repugnantes que as nações de lá praticam. Não permitam que se ache alguém entre vocês que queime em sacrifício o seu filho ou a sua filha; que pratique adivinhação, ou se dedique à magia, ou faça presságios, ou pratique feitiçaria ou faça encantamentos; que seja médium, consulte os espíritos ou consulte os mortos. O Senhor tem repugnância por quem pratica essas coisas, e é por causa dessas abominações que o Senhor, o seu Deus, vai expulsar aquelas nações da presença de vocês. Permaneçam inculpáveis perante o Senhor, o seu Deus. As nações que vocês vão expulsar dão ouvidos aos que praticam magia e adivinhação. Mas, a vocês, o Senhor, o seu Deus, não permitiu tais práticas." (Dt 18.9-14) Caso fossem espíritos humanos, provavelmente, Deus não proibiria a sua consulta, apenas regulamentaria o assunto para evitar abusos. Deus, porém, proíbe o que é dissimulação e falsidade. (Bíblia Shedd pg 430-431)