sexta-feira, 2 de abril de 2010

MUDANÇA DE ESTAÇÃO

Olho para o futuro com certo receio, já não tenho a mesma força e vigor de um adolescente. A primavera já passou, embora as flores continuem na memória. Já posso sentir o vento frio do outono se aproximando. Talvez eu não tenha aproveitado as particularidades de cada estação, mas isso não me fez adoecer. Continuo o mesmo sonhador, amante da poesia, menino brincalhão.

Já briguei muito na vida. Entre diretores e acionista defendendo um ponto de vista ou entre religiosos defendendo a simplicidade e a liberdade. Já causei polêmicas. Fui odiado e amado. Chorei derrotas e comemorei vitórias, mas procurei não gastar meus dias com banalidades. Aprendi muito com as derrotas e sofri com os meus medos, complexos e deslizes. Procurei ser nobre nas minhas ações. Quando procuraram me colocar sob holofotes, fugi. Não tive pretensão de ser estrela à custa dos ideais que defendia. Eu era apenas instrumento inspirado por um Deus Justo e misericordioso.

Sei o que é a dor da perda que estraçalha o peito, atravessa a alma e destrói o equilíbrio. Já chorei copiosamente por 40 minutos, trancado em um banheiro, lamentando o que poderia ser evitado se eu chegasse mais cedo. Desperdicei milagres que não se repetem com as labutas do dia a dia. Como Oskar Schindler fui impossibilitado de alcançar todos. Abandonei os discursos para viver na prática, sentir na pele e influenciar pela convivência. Sofri com os sofrimentos dos outros e alegrei-me com as felicidades alheias.

Amei silenciosamente um amor impossível que foi combustível para alimentar minha alma com poesia e leveza. Criei limitações por complexos e as afoguei nos mares da desilusão assim como os marinheiros afogam suas carências nos bares próximos ao porto. Sofri com relacionamento difícil, mais fui fiel ao juramento, estando na eminência de desistir, Deus me deu forças e calei o óbvio, tranformei o que poderia ser decepção em benção de Deus. Magoei quem não merecia. Fui irresponsável com sentimentos alheios e sofri com sentimentos de culpa.

Assim vivi mais da metade da vida. Como projetar os anos que me restam? Estou apostando nos relacionamentos! Revelar o que escondi. Viver sem representações e pedir perdão a quem magoei. Rever os amigos e ouvi-los. Celebrar a liberdade que conquistei com toda paixão e viver a plenitude de meus ideais. Amar...

Quero enfrentar o outono com as ousadias da primavera. Vencer os gigantes que me derrotaram. Agradecer meu Deus por cada alvorecer. Tenho medo de depender dos outros. Não quero ter a alma frustrada. Quero encarar o meu entardecer dizendo que minha vida valeu à pena.

Marcos Avelino – O Marcão

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