sexta-feira, 24 de junho de 2011

AS TENTAÇÕES NO CRISTIANISMO HODIERNO I

“E Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto. E quarenta dias foi tentado pelo diabo, e, naqueles dias, não comeu coisa alguma, e, terminados eles, teve fome. E disse-lhe o diabo: Se tu és filho de Deus , dize a esta pedra que se transforme em pão. E Jesus lhes respondeu, dizendo: Está escrito que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra de Deus.” (Lc 4:1-4)

Quais as semelhanças entre as tentações feitas a Jesus e as tentações dos cristãos modernos? Meditando no texto de Lucas, podemos notar que estas semelhanças são contundentes. Muitas vezes nos estamos cedendo a estas tentações. Voltamo-nos para o individualismo, o pragmatismo e deixamos nosso egoísmo aflorar. Jesus nos mostrou através do seu evangelho como vencer estas tentações e mantermos a visão no reino de Deus, para a glória de Deus e não buscarmos o nosso reino e nossa glória.

JESUS FOI TENTADO A USAR SUA POSIÇÃO E UNÇÃO PARA SERVIR A SEUS PRÓPRIOS INTERESSES

Dos valores da sociedade atual, o que está encontrando domicílio com mais frequência no cristianismo atual e nas instituições religiosas são a autoafirmação e a autopromoção. Usar a “unção” para obter esses alvos é uma tentação para o cristianismo contemporâneo. Manipular carismas para fins pessoais, já é uma constante na “igreja” de hoje, que passou a fazer parte da cultura religiosa pós moderna.

Vejamos como Jesus agiu em situação similar a que muitas vezes passamos no nosso dia a dia.

Tentado em momentos de consagração.

Jesus estava em momentos de consagração. “E Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto. E quarenta dias foi tentado pelo o diabo, e, naqueles dias, não comeu coisa alguma.” Pensamos que quando estamos em momentos de consagração, ficamos imunes e resistentes as tentações. “Sujeitai-vos, pois a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”.( Tg 4:7) Para sujeitar a Deus e resistir ao diabo é preciso está consagrando-se durante a tentação. Além de está cheio do Espírito Santo, durante a tentação Jesus jejuava. É nesta situação que o diabo nos tenta a usar nossa unção e consagração para nossos próprio benefício, afim de tornar público que somos possuidores de poderes especiais. O diabo aguça nosso orgulho e nossa vaidade. Ele chega para Jesus e diz: “se tu és filho de Deus, diz a esta pedra que se transforme em pão. “ O diabo sabia que Jesus era o filho de Deus e estava cheio do Espírito Santo. Jesus tinha poder para realizar aquela façanha, saciar sua fome e mostrar ao diabo o seu poder. Jesus sabia que usar sua unção para seu interesse estava longe do propósito de Deus e ficou firme na palavra e afirmou: “Não só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra de Deus”.

O diabo continua tentando aos cristãos com as mesmas afirmações feitas a Jesus. Com convicção que somos filhos de Deus e, portanto semelhante a Ele, e que podemos tomar decisão sem O consultar, estamos muitas vezes caindo.

A pós modernidade gerou no cristianismo um estímulo a competição no mercado religioso e os desejos de profissionalismo. Para muitos, o ministério passa a ser uma oportunidade de autoafirmação e o cumprimento de anseios que sempre desejou na vida secular. Em vista destes desejos, muitos vivem procurando oportunidade de transformar pedras em pães.

E aproveitar o sucesso como pregador, inspirador de êxtase, manipulador de massas humanas ou pastor e então ser vereador, deputado, senador... Ficando bem claro que a “unção” que recebeu pela sua instituição é apenas uma ponte para o sucesso na vida secular. O caráter dessa gente fica explícito quando se ver os escândalos envolvendo políticos cristãos, como o da máfia das ambulâncias em 2006 entre outros.

Hoje se faz entrevistas com demônios, forçando-o a afirmar declarações doutrinárias para mostrar ao público que na denominação existe a “unção” de Deus. Outros usam este artifício folclórico para tornar público que tem poder sobre os demônios.

Muitas vezes estes desejos de transformar pedras em pães para galgar destaque social-cristão se manifesta nos testemunhos. Contam histórias impressionantes sobre seu desempenho espiritual afirmando que é para a glória de Deus. Mas na realidade a glória de Deus fica em segundo plano, em pano de fundo. O que faz parte do cenário principal é a glorificação do ego e do desejo de ser referência de espiritualidade.

Existem até os profissionais do testemunho! Pessoas que são celebridades (atores, cantores, artistas de um modo geral ) ou pessoas que outrora viviam uma vida muito além da margem da sociedade e hoje são “cristãos”. Alguns cobram por seus testemunhos!!. Estão usando o que Deus fez para benefício pessoal. São atores do grande palco dos cultos shows de algumas denominações.

Fazer de suas experiências história de autopromoção é um constante transformar de pedras em pães no meio evangélico brasileiro. É usar sua “unção” para benefício próprio.

A palavra de Jesus era atestada por sua vida, Ele fazia. “Os milagres que faço em nome de meu pai falam por mim”(Jo 10:25b). Jesus também afirmou: “Se testifico de mim mesmo o meu testemunho não é verdadeiro. Há outro que testifica a meu respeito, e sei que seu testemunho é verdadeiro”(Jo 5:31-32). Jesus era discreto em seus milagres (Mt 12:19). Este fato já tinha sido anunciado profeticamente( Is 42: 1-3 ).

Os líderes hoje usam os meios de comunicação para chamarem atenção das massa sobre os prodígios. Jesus não gerava através do marketing uma psicose por milagres e prodígios. Muitas vezes Ele aconselhava as pessoas que tinham recebido a bênção a não contar nada a ninguém (Mc 7:36).

Usar sua posição para auto exaltação, para tentar impressionar é estar cedendo a tentação. Além disso, este comportamento leva a uma concorrência de quem tem mais “unção”. Não é por acaso que se abrem tantas denominações hoje! Muitos procuram seus espaços para brilhar e seu palco para ser aplaudido e mistérios para ser reconhecidos. Tudo isso por não querer ameaça a possibilidade de usar seus carismas para benefício próprio de projeção ministerial.

Vejamos o que a bíblia diz sobre usar a unção em benefício próprio.

“Veio a mim a palavra do Senhor: Filho do homem, profetiza conta os pastores de Israel; profetiza, e dize aos pastores: Assim diz o Senhor Deus: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não apascentarão os pastores as ovelhas?

Comeis a gordura, vestis-vos de lã, e degolais o cevado, mas não apascentais as ovelhas. A fraca não fortalecestes, a doente não curastes, a quebrada não ligastes, a desgarrada não tornastes trazer e a perdida não buscastes, mais dominais sobre elas com rigor e dureza.

Assim se espalharam por não haver pastor, e ficaram de pasto de todos os animais do campo, porque se espalharam.

As minhas ovelhas andam desgarradas por todos os montes, e por todo alto outeiro; sim, as minhas ovelhas andam espalhadas por toda a face da terra, sem haver quem as procure, nem quem as busque.

Portanto, ó pastores, ouvi a palavra do Senhor: Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, visto que as minhas ovelhas foram entregues a rapina, e as minhas ovelhas vieram a servir de pasto a todos os animais do campo, por falta de pastor, e os meus pastores não procuram as minhas ovelhas, pois se apascentam a si mesmos, e não apascentam as minhas ovelhas, portanto, ó pastores, ouvi a palavra do Senhor:

Assim diz o Senhor Deus: Eu estou contra os pastores, e requererei as minhas ovelhas das suas mãos, e eles deixarão de apascentar as ovelhas, e não se apascentarão mais a si mesmos; livrarei as minhas ovelhas de sua boca, e não lhes servirão mais de pasto.”(Ez 34:1-10).

Tentado no deserto em momento de privações.

Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto e sentia fome, após quarenta dias de jejuns. Na maioria das vezes somos tentados no deserto. São nas situações de maiores desejos e necessidades que aparecem as maiores tentações. Estamos atravessando os desertos da vida, em plena comunhão com Deus quando chega o diabo e diz: Os filhos de Deus não são para viverem em desertos, mas para possuírem cidades. Usa alguns versículos da palavra de Deus de forma manipulada e fora do contexto. Então abandonamos o deserto, voltamos para o Egito e passamos a viver escravizados pelo desejo de prosperidade, desejamos a todo custo sermos empresários bem sucedido ou super-obreiros de Deus. Transformamos as pedras em pães, passamos a criar o status da fé e nos tornamos orgulhosos. Somos seduzidos pelo inimigo de nossas almas a buscar valores da sociedade pós moderna e a cair no seu mesmo pecado.

Não quero ser dogmático nem afirmar que os filhos de Deus têm que ser pobres. Estou cônscio de que as benções de Deus são fruto de nossa obediência. O que quero denunciar aqui é uma eclesiologia que coloca os valores da sociedade secular acima dos valores do reino. Que coloca o material acima do caráter.

Jesus viveu uma vida em desertos, não tinha onde reclinar a cabeça (Mt 8:20), sofreu perseguições que culminou com a sua crucificação. Deus chamou o povo de Israel da escravidão do Egito para a terra prometida, mas antes tiveram que passar pelo deserto. No deserto o povo viveu dependendo exclusivamente de Deus. Temos que aprender viver em nossos desertos dependendo exclusivamente de Deus. Este é o nosso caminho para chegar a terra prometida.

Moisés vivia como príncipe na corte de faraó. Deixou sua posição e riqueza para defender uma causa e por isso teve que viver quarenta anos no deserto. E no deserto o Senhor se manifestou a ele e o chamou para ser seu profeta. Moisés foi na contramão aos valores de hoje que nos convida a sairmos do deserto para vivermos na corte sem causas.

Deus nos chama a abandonar os valores do presente século e vivermos em dependência exclusiva dEle, então estamos aptos a sermos verdadeiros profetas. Ele espera que não transformemos pedras em pães para nosso próprio benefício, para depois multiplicarmos poucos pães em milhares para benefício das almas.

Até a próxima

Marcos Avelino.

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