sábado, 13 de agosto de 2011

A Verdade sobre a Igreja I

O filho de uma irmã da congregação onde eu servia faleceu. Ela pediu ao pastor para o corpo do seu filho ser velado no templo. O pastor atendeu ao seu pedido. Esse fato gerou uma celeuma entre as irmãs “do mistério” (como são conhecidas as irmãs que faziam parte do círculo de oração da congregação). Elas vieram a mim questionando se não era errado velar um morto na igreja, a casa de Deus.

Eu falei para elas que o Senhor não habita mais em templos feitos por mãos humanas e que o templo não é mais a casa de Deus. Nós somos o santuário do altíssimo. Onde nos estivermos reunidos em seu nome, fazendo a sua obra, Ele está conosco. Ainda que seja em lugares mais vis como um terreiro de umbanda ou um antro de prostituição. Só a igreja saindo dos templos das denominações o evangelho será levado até aos confins da terra.

Pensar na igreja como o templo é um algo em comum com a maioria dos que frequentam as instituições religiosas hoje.

A palavra igreja, “ekklesia” no grego, era uma assembléia de cidadãos convocados para uma reunião administrativa. Era a reunião dos “eklectoi”, reunidos para discutir assuntos políticos do estado. “Ekklesia” deriva do verbo “ekkaleo” que significa chamar a parte1.

“Ekklesia” era uma congregação de pessoas ou assembléia legal, numa cidade grega, formada por todos que tivessem direito de cidadania (chamado a parte) para tratar de assuntos públicos2.

Para uso do cristianismo poderíamos dizer que “ekklesia” é a congregação de crentes, organizados para manutenção das atividades normais da vida cristã, ( doutrina, ordenança, administração) tendo comunhão entre si e com Cristo. 3

A “ekklesia” do novo testamento era um grupo organizado que estava ativamente engajado no comprimento da grande comissão. Dessa organização apenas Cristo era o cabeça. Os crentes mantinham comunhão uns com os outros e com Cristo.

A primeira vez que o novo testamento usou a palavra igreja (ekklesia) foi em Mt 16.18 e se fosse traduzir ao pé da letra do original teríamos: Revelo eu também pedra(no sentido de pequeno deslocamento de material rochoso), sobre esta rocha de verdade revelada edificarei a Minha assembleia e o portão do mundo dos mortos não poderão subjugar (obter domínio).

A rocha revelada era a afirmação de Pedro de que Jesus era o Cristo, o filho do Deus vivo. Não era algo material, mais uma assembleia (imaterial) firmada na Rocha que é Jesus (Espiritual)

Na septuaginta, versão grega do antigo testamento, traduz a palavra kahal por ekklesia. kahal é referente a assembleia ou convocação dos judeus. A maior parte do termo ekklesia no novo testamento tem sentido de uma congregação de fiéis.

Portanto não se deve fazer relação dos templos das denominações com casa de Deus, ou tabernáculo, pois isso ficou com a lei de Moisés. Quando Jesus morreu o véu do templo rasgou de cima abaixo. A partir daí Deus não habita mais em templos feitos por mãos humanas. (At 17.24). Onde estiver dois ou três reunidos em nome Dele, ali Deus está. (Mt 18.20). Ali também está a igreja do Senhor.

A Igreja do Senhor pode ser reunir em um templo, mas quando os cristãos deixarem a reunião, não é mais igreja e sim apenas o templo, uma estrutura material. A Igreja primitiva se reunia nas casas, (At 28.30 Rm 16 5) e também no templo dos judeus (At. 2.46 e At. 5.42).

A igreja não deve deixar de se reunir: em casa, com cultos domésticos onde as famílias estarão se edificando e os vizinhos tendo a chance de ouvir a palavra; em reuniões públicas, bem organizadas, onde as pessoas podem ouvir a mensagem do evangelho; em templos para ouvir relatos do que Deus está fazendo na comunidade, para ensinos dos princípios básicos da fé cristã e para reuniões festivas.

A centralização de todas as atividades da igreja em templos tem mais motivação financeira do que espiritual. Quanto mais vezes a igreja se reune no templo, mais ofertas são tiradas para as denominações.

Esta reunião ativista e diária nos grandes templos é patológica para o cristianismo, pois tira a dimensão de comunidade da igreja e a torna apenas um exército da fé. Enfraquece os laços de comunhão familiares e de edificação mútua dos irmãos. As reuniões que tinha como objetivo cultuar a Deus, aos poucos vai dando lugar ao culto onde o objetivo maior é fazer apresentação para as pessoas que vão ao templo. A igreja se fragmenta entre o grupo que trabalha para instituição e o grupo de cliente. A igreja assim vai perdendo sua identidade.

Marcos Avelino

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1. Raimundo OLIVEIRA, As grandes doutrinas da bíblia, p. 253

2. Ibid., p. 254

3. Ibid., p. 270

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