sábado, 6 de agosto de 2011

MORDOMIA CRISTÃ

Se procurarmos uma definição de Deus nas páginas do novo testamento encontraremos: Deus é amor (I Jo 4.8,16); Deus é luz (I Jo 1.5); Deus é Espírito (Jo 4.24). O homem como sua imagem e semelhança deve ser luz (Mt 5.14-16), pois recebemos do seu Espírito para expressar o seu infinito amor.

A efetivação certa da mordomia ajuda a proclamar este amor de Deus através da ação do seu Espírito, com liberdade, sem obrigatoriedade institucional ou motivação emocional, sem perspectiva de receber qualquer coisa em troca, pois nada possuímos tudo é de Deus, somos apenas mordomos. : "Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam"(Sl 24.1). Deus colocou o homem como seu administrador (Gn 1: 28-31). Despenseiros dos mistérios de Deus (I Co 4: 1-12).

E com pesar que vejo o evangelho moderno, legalista em que a mordomia se resume a dar “os 10% de Deus”, então pode-se gozar dos 90% que presume ser seu. E um evangelho sem amor, sem alma e sem verdade. Onde o interesse mercantilista tirou o senso de justiça social, de amor fraternal. Extraiu o senso de comunidade da igreja do Senhor e o transformou apenas num exército de fé que luta por conquistas materiais.

Há uma mentalidade caída hoje, que acredita que “devolver o que é de Deus” para a instituição já é o bastante, e é pecado não fazê-lo. Pode-se adulterar ou fornicar, mentir, roubar, oprimir o funcionário, mais deixar de dizimar jamais. Isto é semelhante o que Jesus combatia:“Ai de vocês, mestres da Lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês dão a Deus a décima parte até mesmo da hortelã, da erva-doce e do cominho, mas não obedecem aos mandamentos mais importantes da Lei, que são: o de serem justos com os outros, o de serem bondosos e o de serem honestos.”

Do Senhor são teus filhos, mulher, fazendas, carros, todos teus recursos e tua vida. E Ele te entregou tudo para você administrar, fazer o melhor uso dos recursos materiais e refletir Seu amor nos recursos humanos. No Início da igreja primitiva tudo recurso material era comum ”Pois nenhum necessitado havia entre eles, porquanto os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes e depositavam aos pés dos apóstolos; então, se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade.” (At.34,35). E o apóstolo Paulo escreveu: "Porque, se vivemos, para o Senhor vi­vemos; se morremos, para o Senhor morremos.” (Rm 14.8).

No Antigo testamento há inúmeras passagens que expressam a vontade de Deus em que seus filhos façam justiça social e no Novo testamento Tiago escreveu: “A religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se isento da corrupção do mundo.” (Tg 1.27)

Tudo pertence a Deus. Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela contém, A sociedade atual faz com que a igreja sempre relacione mordomia e herança com bens materiais. Isso devido a busca individual na sociedade secular por estes valores. O homem pertence a Deus, logo seu tempo, a sua influência, a sua oportunidade e seus bens materiais são objetos de sua mordomia.

Jesus conta a história do administrador (mordomo) infiel, que coloca em primeiro lugar a si mesmo e procura segurança no sistema. Como se comporta um mordomo fiel? O espaço não me permite fazer uma exposição sobre mordomia, este assunto exigiria um livro exclusivamente. O mordomo fiel faz justiça social, ele administra os recursos do Senhor. Não espera por governo e nem pelo o tempo em que os Cristãos detenham o poder político. Ele sabe que cada cristão deve fazer a sua parte.

Ouve-se muito frases como: “Os bens materiais devem está nas mãos dos santos a serviço do Senhor”. “Os bens devem está nas mãos dos crentes a serviço da obra do Senhor”. “Os bens devem ser transferido das mãos das pessoas ímpias para serem colocados nas mãos dos cristãos”. “Os crentes devem ocupar todo os espaços na sociedade e da política para impor a sociedade um governo cristão.”

Estes tipos de pensamentos recebem influência de uma teologia Norte Americana conhecida como “teologia do domínio”. Tem como bandeira que a igreja deve conquistar o poder político e impor a sociedade um governo baseado na bíblia sagrada. Enfatiza que os crentes devem dominar o mundo antes do retorno de Cristo. Esta teologia foi formada de um sincretismo de alguns movimentos vejamos:

a.) Reconstrucionismo cristão é um movimento de visão pós milenista que afirma que a igreja deve conquistar o mundo antes do retorno de Cristo, portanto deve controlar as instituições do mundo e convertê-las ao cristianismo.

b.) Teologia do “reino agora” é fruto de um movimento herético denominado “Letter Rain” da década de 40. Defende que a igreja deve se unir sobre a liderança de apóstolos e profetas e se infiltrar nas instituições como representantes de Jesus.

c.) Restauracionismo. Movimento que espalhou-se pelas as Assembleias de Deus do Canadá e EUA. A liderança das Assembléias de Deus rejeitou o movimento por algumas afirmações como: “Deus está restaurando progressivamente as verdades para a igreja desde a reforma protestante”.1

Como fica nossa posição de mordomo diante da afirmação de Jesus “Ninguém pode servir dois senhores; porque ou há de aborrecer a um, e amar o outro; ou se devotará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e as riquezas (Mt 6:24)? Como administrar as riquezas na posição de mordomos, se não podemos servir ao Senhor e as riquezas?. Por que personagens bíblico tiveram de optar entre Jesus e as riquezas para poder servir a Deus (Lc 12: 33-34).?

Deus realmente ordena aos cristãos tomar o domínio e o poder político das mãos dos ímpios? Após a multiplicação dos pães as multidões queriam fazer de Jesus um rei. Ele podia tomar o poder político e impor um governo cristão.

Jesus antes de sua crucificação afirmou “O meu reino não é deste mundo. Se fosse, os meus súditos combateriam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas agora o meu reino não é daqui “( Jo 18:36).

Deus nos deu o direito de posses de bens materiais. A prosperidade é fruto de obediência (Dt 6: 1-3; Dt 28 2,11). Na casa do justo há muitos tesouros (Pv 15:6). O servir as riquezas e o amontoar egoísta de riquezas é não considerar a vida no ponto de vista da eternidade. É não buscar as coisas de cima. É centralizar as possessões e não a Deus.

O sonho da maioria dos crentes atuais é ser empresário, para dar testemunho de prosperidade dando dízimos de grande valor. Embora que para isso tenha que explorar seus funcionários, pagando-lhes o mínimo dos mínimos para sobrevivência.

Ser mordomo fiel é cumprir a vontade do Senhor, e a vontade do Senhor e termos justiça social. Podemos ver isso no decorrer da bíblia sagrada (Is 1:17; Zc 7: 9-10). Justiça social é conseqüência da prosperidade( Sl 112: 5,9), o clientelismo é fruto da visão colonialista e capitalista da igreja de hoje. Estamos longe de fazermos justiça social. O Pr. Carlos Queróz comenta:

Repassaram-nos a ideologia do mundo religioso ocidental, onde riqueza é sinal de bênção e ser pobre é desgraça. Neste contexto ideológico “bem de vida” é ter altos salários, casas, carros, etc. (...). Essa ideologia catalizadora da mentalidade elitista de classe média, que está mais propensa a se beneficiar dos sistemas econômicos mundanos, mesmo que servindo, consciente ou inconscientemente, as classes ricas e mantendo sob subserviência as comunidades pobres. Somente uma conversão desta mentalidade, poderá criar condições para a Igreja inverter o seu atual comprometimento com as elites2

Distribuir cestas básicas, contribuir com sociedades filantrópicas ou com causas assistenciais está longe da exigência de Deus para sermos um mordomo fiel e de expressarmos o amor divino. Deus quer que desempenhamos nosso papel de mordomos fazendo justiça social. Devemos lutar por estruturas econômicas que impeçam o surgimento extremo de riqueza e pobreza. Devemos ser mordomos compartilhando os recursos econômicos entre nossos irmãos. Prosperidade sem esse zelo bíblico e um sinal claro de desobediência.

Notas

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1. Paulo ROMEIRO, Evangélicos em crise, p. 159-160

2. Carlos QUIROZ, Cristo e a trasformação social no Brasil,

p. 42

Marcos Avelino

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