terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Comprometimento social do cristão

Na postagem passada escrevi: Deve-se pedir ( em oração) para transformar o individualismo em comunitarismo, pois não haverá preservação da vida sem comprometimento e compartilhamento do ser humano. Quero nesta postagem trazer subsídio para esta afirmação, explorando a responsabilidade como mordomos na graça e a dos judeus na lei. A finalidade das contribuições na lei e na graça. Este é um tema polêmico e intocável pelas instituições religiosas.

O tema abordado nesta postagem é apenas um dos aspecto da missão da igreja, e que não perca o foco de outros como: a evangelização, a adoração e a comunhão.

Em primeiro lugar eu quero afirmar que a dispensação da graça começa com a morte de Cristo e não com o início das narrativas do novo testamento. Até a morte de Jesus ele vivia sob a lei de Moisés, e estava aqui para cumprir esta lei. “Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, mas cumprir.”(Mt 5.17) e o fim da lei é Cristo conforme Rm 11.14. A graça veio ampliar a lei, pois o que era feito por obrigação na lei passou a ser feito por amor na graça.

Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e, Quem matar será réu de juízo. (Isto é preceito da lei) Eu, porém, vos digo que todo aquele que se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e quem disser a seu irmão: Raca, será réu diante do sinédrio; e quem lhe disser: Tolo, será réu do fogo do inferno. (isto é preceito da graça) Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. (Isto é preceito da lei) Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela.” (Isto é preceito da graça) (Mt. 5.21-28) A graça veio aumentar a responsabilidade

Veja este exemplo que li de um estudo bíblico:

Adultério

§ Lei: Para não adulterar, o meio utilizado foi o apedrejamento (Levítico 20:10).

§ Graça: Para não adulterar, o meio utilizado foi o amor a Cristo (II Coríntios 5:14).

Contribuição

§ Lei: Para contribuir, o meio utilizado foi o medo do devorador (Malaquias 3:10-11).

§ Graça: Para contribuir, o meio utilizado é o amor a Cristo (II Coríntios 9:7).

No Adultério e na Contribuição, mudou o meio, mas o objetivo foi o mesmo: Não adulterar e sempre contribuir. (Luciana R. A. Viana, DÍZIMO: CONTRIBUIÇÃO DA LEI OU DA GRAÇA?, http://www.estudos-biblicos.net/dizimolv.html)

No antigo testamento há inúmeras passagens que falam de comprometimento e compartilhamento aos pobres, viúvas, órfãos e estrangeiros. O Dízimo na lei de Moisés era destinado a prover as necessidades básicas dos levitas e a beneficência aos estrangeiros, órfãos e as viúvas. “Então, virão o levita (pois não tem parte nem herança contigo), o estrangeiro, o órfão e a viúva que estão dentro da tua cidade, e comerão, e se fartarão, para que o Senhor, teu Deus, te abençoe em todas as obras que as tuas mãos fizerem.” (Dt 14.29).

Após a narrativa neotestamentária da morte e ressurreição de Jesus, o único texto bíblico que fala sobre dízimos está na epístola aos Hebreus, no capítulo 7. Mas o novo testamento está repleto de exemplos de contribuições (ofertas) e suas finalidades. Vejamos:

Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um.” (Atos 2.44-45)

“Pois não havia entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que vendiam e o depositavam aos pés dos apóstolos. E se repartia a qualquer um que tivesse necessidade.” (Atos 4.34-35)

“Porque pareceu bem à Macedônia e à Acaia levantar uma oferta fraternal para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém”. Rm 15.26

Independente dos dízimos, no novo testamento encontra-se base para contribuir para o sustento renumerado de obreiros que dão tempo integral à obra de Deus. Veja os exemplos: Paulo recebeu salário de determinadas igrejas para servir aos crentes em Corinto (2 Co 11.8); O pastor que emprega tempo integral na assistência à igreja é digno do seu salário (1 Tm 5.18); Paulo ensinou à igreja de Corinto a sustentar os pregadores do Evangelho (1 Co 9.4-14); Timóteo foi advertido por Paulo a não cuidar dos negócios seculares para se sustentar (2 Tm 2.4); Pedro disse que a única ocupação dele e de seus companheiros de ministério era a oração e a pregação (At 6.4); Os apóstolos de Jesus viviam das ofertas que recebiam. Em João 12.6 lemos que existia uma bolsa onde eram depositadas as contribuições para o sustento dos discípulos, e Judas fazia as com­pras com o dinheiro aí depositado (Jo 13.29).

Portanto na lei e na graça o princípio é o mesmo: sustentar os obreiros, os pobres, as viúvas e os órfãos. O que muda é que a graça amplia a responsabilidade. Na lei você devolvia o dízimo para manutenção do ardem religiosa e justiça social. Na graça não precisa devolver nada obrigado por lei, pois tudo pertence a Deus que colocou seus filhos como mordomo. Movido por Deus, o mordomo fiel contribui para fazer justiça social e manutenção da sua obra.

Na graça Tiago afirma:” A religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se isento da corrupção do mundo.” (Tg 1.27)

Agora leia o único texto que fala de dízimo na graça ( No novo testamento há mais 2 passagens. Veja em postagens anteriores julho 2011)

”Porque este Melquisedeque, rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, que saiu ao encontro de Abraão quando este regressava da matança dos reis, e o abençoou, a quem também Abraão separou o dízimo de tudo (sendo primeiramente, por interpretação do seu nome, rei de justiça, e depois também rei de Salém, que é rei de paz; sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas feito semelhante ao Filho de Deus), permanece sacerdote para sempre. Considerai, pois, quão grande era este, a quem até o patriarca Abraão deu o dízimo dentre os melhores despojos. E os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar os dízimos do povo, isto é, de seus irmãos, ainda que estes também tenham saído dos lombos de Abraão; mas aquele cuja genealogia não é contada entre eles, tomou dízimos de Abraão, e abençoou ao que tinha as promessas. Ora, sem contradição alguma, o menor é abençoado pelo maior. E aqui certamente recebem dízimos homens que morrem; ali, porém, os recebe aquele de quem se testifica que vive. E, por assim dizer, por meio de Abraão, até Levi, que recebe dízimos, pagou dízimos, porquanto ele estava ainda nos lombos de seu pai quando Melquisedeque saiu ao encontro deste. De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (pois sob este o povo recebeu a lei), que necessidade havia ainda de que outro sacerdote se levantasse, segundo a ordem de Melquisedeque, e que não fosse contado segundo a ordem de Arão? Pois, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei. “(Hb 7,1-12)

O texto acima deixa claro que os sacerdotes Levíticos recebiam os dízimos segundo a lei (v 5), Porque através deles (sacerdotes Levíticos) o povo recebeu a lei (v 7) e mudando-se o sacerdócio, a lei precisa também ser mudada (v.12). Deus enviou outro sacerdote porque o sacerdócio levítico não era perfeito (v11).

Toda a lei de Moisés se cumpriu em Jesus, ele é o fim da lei. Melquisedeque, era a figura do sacerdócio eterno de Cristo, então quem deveria receber dízimo hoje seria o próprio Jesus. E a única maneira de Jesus receber o dízimo é quando o pobre recebe. Veja o texto bíblico abaixo:

“ Quando, pois vier o Filho do homem na sua glória, e todos os anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; e diante dele serão reunidas todas as nações; e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos à esquerda.

Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me acolhestes; estava nu, e me vestistes; adoeci, e me visitastes; estava na prisão e fostes ver-me.

Então os justos lhe perguntarão: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? Quando te vimos forasteiro, e te acolhemos? ou nu, e te vestimos? Quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos visitar-te?

E responder-lhes-á o Rei: Em verdade vos digo que, sempre que o fizestes a um destes meus irmãos, mesmo dos mais pequeninos, a mim o fizestes.”(Mt 25.31-40)

A Igreja primitiva, em atos dos apóstolos, partilhava seus bens, suprindo a carência dos necessitados. Isto aconteceu quando o Espírito Santo desceu sobre ela. Os primeiros diáconos foram escolhidos para tratar das causas sociais da igreja. (At 6.1-7). Historicamente um dos sinais dos avivamentos e o engajamento da igreja em questões sociais.

Não podemos separar nossa vida religiosa do compromisso social. Não podemos reduzir nossa fé a freqüência aos cultos, aos montes de oração e a leitura bíblica e afastarmos de nos a responsabilidade social. Também não devemos deixar que a vida cristã se resuma a obra social, e nem tampouco usar o assistencialismo como isca para evangelização, pois justiça social está acima disso.

Marcos Avelino

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