sábado, 1 de fevereiro de 2014

PORQUE SAMUEL APARECE QUANDO SAUL CONSULTA A FEITICEIRA DE EN-DOR SE A BÍBLIA CONDENA A MEDIUNIDADE?


 " Samuel já estava morto, e todo o Israel o tinha chorado, e o tinha sepultado em Ramá, que era a sua cidade; e Saul tinha desterrado os adivinhos e os encantadores.
E ajuntaram-se os filisteus, e vieram, e acamparam-se em Suném; e ajuntou Saul a todo o Israel, e se acamparam em Gilboa.
E, vendo Saul o arraial dos filisteus, temeu, e estremeceu muito o seu coração.
E perguntou Saul ao Senhor, porém o Senhor não lhe respondeu, nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas.
Então disse Saul aos seus criados: Buscai-me uma mulher que tenha o espírito de feiticeira, para que vá a ela,
e consulte por ela. E os seus criados lhe disseram: Eis que em En-Dor há uma mulher que tem o espírito de adivinhar.
E Saul se disfarçou, e vestiu outras roupas, e foi ele com dois homens, e de noite chegaram à mulher; e disse: Peço-te que me adivinhes pelo espírito de feiticeira, e me faças subir a quem eu te disser.
Então a mulher lhe disse: Eis aqui tu sabes o que Saul fez, como tem destruído da terra os adivinhos e os encantadores; por que, pois, me armas um laço à minha vida, para me fazeres morrer?
Então Saul lhe jurou pelo Senhor, dizendo: Vive o Senhor, que nenhum mal te sobrevirá por isso.
A mulher então lhe disse: A quem te farei subir? E disse ele: Faze-me subir a Samuel.
Vendo, pois, a mulher a Samuel, gritou com alta voz, e falou a Saul, dizendo: Por que me tens enganado? Pois tu mesmo és Saul.
E o rei lhe disse: Não temas; que é que vês? Então a mulher disse a Saul: Vejo deuses que sobem da terra.
E lhe disse: Como é a sua figura? E disse ela: Vem subindo um homem ancião, e está envolto numa capa. Entendendo Saul que era Samuel, inclinou-se com o rosto em terra, e se prostrou.
Samuel disse a Saul: Por que me inquietaste, fazendo-me subir?
Então disse Saul: Mui angustiado estou, porque os filisteus guerreiam contra mim, e Deus se tem desviado de mim, e não me responde mais, nem pelo ministério dos profetas, nem por sonhos; por isso te chamei a ti, para que me faças saber o que hei de fazer.
Então disse Samuel: Por que, pois, me perguntas a mim, visto que o Senhor te tem desamparado, e se tem feito teu inimigo?

Porque o Senhor tem feito para contigo como pela minha boca te disse, e o Senhor tem rasgado o reino da tua mão, e o tem dado ao teu próximo, a Davi.
Como tu não deste ouvidos à voz do Senhor, e não executaste o fervor da sua ira contra Amaleque, por isso o Senhor te fez hoje isto.
E o Senhor entregará também a Israel contigo na mão dos filisteus, e amanhã tu e teus filhos estareis comigo; e o arraial de Israel o Senhor entregará na mão dos filisteus.
E imediatamente Saul caiu estendido por terra, e grandemente temeu por causa daquelas palavras de Samuel; e não houve força nele; porque não tinha comido pão todo aquele dia e toda aquela noite.
Então veio a mulher a Saul e, vendo que estava tão perturbado, disse-lhe: Eis que a tua criada deu ouvidos à tua voz, e pus a minha vida na minha mão, e ouvi as palavras que disseste.
Agora, pois, ouve também tu as palavras da tua serva, e porei um bocado de pão diante de ti, e come, para que tenhas forças para te pores a caminho.
Porém ele o recusou, e disse: Não comerei. Porém os seus criados e a mulher o constrangeram; e deu ouvidos à sua voz; e levantou-se do chão, e se assentou sobre uma cama.
E tinha a mulher em casa um bezerro cevado, e se apressou, e o matou, e tomou farinha, e a amassou, e a cozeu em bolos ázimos.
E os trouxe diante de Saul e de seus criados, e comeram; depois levantaram-se e partiram naquela mesma noite."

1 Samuel 28:3-25

Há bastante polêmica com relação a interpretação deste texto. Saul pede a uma feiticeira invocar o espírito de Samuel. Conforme textos bíblicos anteriores,  Deus condena esta prática. Samuel condena esta prática, o próprio Saul como afirma o verso 3 havia expulso os adivinho e encantadores, então como explicar este texto?. Vejamos como o comentarista Russell Shedd explica este texto.

A mediunidade é pecado gravíssimo, condenado pela Bíblia de ponta a ponta, e é castigada com a pena máxima, pena de morte no Antigo Testamento e a condenação eterna no Novo Testamento (Lv 20.27; Dt 18.10-12; At 16.18; Ap 21.8). Dizer que Deus permitiu o aparecimento de Samuel mediante a pitonisa (1Sm 28.11), é afirmar que Deus permitiu a Samuel pecar gravemente. Consultar os "mortos", ou os falsos mortos, é pecado igual ao de feitiçaria e ao de idolatria (1Sm 15.23a). É pecado cuja prática Deus não permitiu a ninguém, absolutamente a ninguém, e muito menos a Samuel, que era o segundo dos profetas, quanto à importância, depois de Moisés no A.T. (Jr 15.1).

A crônica de 1Sm 28.7-25 fora escrita por uma testemunha ocular: logo, por um dos servos de Saul que o acompanhara à necromante (1Sm 28.7,8). Frequentemente, esses servos eram estrangeiros (1Sm 21.7; 26.6; 2Sm 23.25-39) e quase sempre supersticiosos, crentes no erro (1Sm 28.7) - razão por que o seu estilo é tão convincente. Esta crônica que é parte da história de Israel, pela determinação divina, entrou no Cânon Sagrado. E deve estar lá, como lá estão os discursos dos amigos de Jó (Jó 42.7), as afirmações do autor de "debaixo do sol" (Ec 3.19; 5.18; 9.7,9,10 etc.), a fala da mulher de Tecoa (2Sm 14.2-21) etc. - palavras e conceitos humanos. (Infelizmente, esta crônica é interpretada por muitos sob o mesmo ponto de vista do servo de Saul). Analisando-se o caso, não negamos a sinceridade da mulher (1Sm 28.11-14): também a moça de At 16.16-18 foi sincera. Nem tão pouco recorremos à interpretação parapsicológica (que é possível), mas diretamente à Bíblia que, em si mesma, tem os argumentos necessários, para desmentir as afirmações do servo de Saul. Antes, porém, vejamos a palavra médium (1Sm 28.6, heb ob), que é traduzida em outras versões por "espírito adivinhador", ou "espírito familiar" e no texto grego (LXX) por (engastrimuthos) "ventríloquo" (um de fala diferente), palavra que indica a espécie de pessoa usada por um desses "espíritos". 

1) Argumento Gramatical (1Sm 28.6). ... o Senhor... não lhe respondeu. O verbo hebraico é completo e categórico. Na situação presente de Saul, Deus não lhe respondeu, não lhe responde e não lhe responderá nunca. O fato é confirmado pela frase: "... Saul interrogara e consultara uma necromante e não ao Senhor..." (1Cr 10.13-14). 

2) Argumento Exegético (1Sm 28.6): Nem por Urim - revelação sacerdotal (ver 1Sm 14.18); nem por sonhos - revelação pessoal; nem por profetas - revelação inspiracional da parte de Deus. Fosse Samuel o veículo transmissor, seria o próprio Deus respondendo, pois Samuel não podia falar senão pela inspiração. E, se não foi o Senhor quem falou, não foi Samuel. 

3) Argumento Ontológico: Deus se identifica como Deus dos vivos: de Abraão, de Isaque, de Jacó etc, (Êx 3.15; Mt 22.32). Nenhum deles perdeu a sua personalidade, integridade, ou superego. Seria Samuel o único a poluir-se, indo contra a natureza do seu ser, contra Deus (1Sm 28.6) e contra a doutrina que ele mesmo pregara (1Sm 15.23), quando em vida nunca o fez? Impossível. 

4) Argumento Escatológico: O pecado de Samuel tornar-se-ia mais grave ainda, por ter ele estado no "seio de Abraão" e tendo recebido uma revelacão superior e um conhecimento mais exato das coisas encobertas, e, por não tê-las considerado, nem obedecido as ordens de Deus (Lc 16.27-31). Mas Samuel nunca desobedeceu a Deus (1Sm 12.3-4). 

5) Argumento Doutrinário: Consultar os "espíritos familiares" é condenado pela Bíblia inteira (ver 1Sm 28.3). Fossem os espíritos de pessoas, Deus teria regulamentado a matéria, mas como não são, Deus o proibiu. Aceitando a profecia  do  pseudo-Samuel, cria-se uma nova doutrina, que é a revelação divina mediante pessoas ímpias e polutas. E nesse caso, para serem aceitas as afirmações proféticas, como verdades divinas é necessário que sejam de absoluta precisão; o que não acontece no caso presente (Vejam como são precisas as profecias a respeito de Cristo: Zc 9.9 e Jo 12.15; Sl 22.18 e Jo 19.24; Sl 69.21 e Jo 19.28-29; Êx 12.46; Nm 9.12; Sl 34.20 e Jo 19.36; Zc 12.10; Jo 19.37 etc). 

6) Argumento profético (Dt 18.22): As profecias devem ser julgadas (1Co 14.29). E essas, do pseudo-Samuel, não resistem ao exame. São ambíguas e imprecisas, justamente como as dos oráculos sibilinos e délficos. Vejamos: a) Saul não foi entregue nas mãos dos filisteus (1Sm 28.19): A profecia é de estilo sibilino e sugeria que Saul viria a ser supliciado pelos filisteus. Mas o fato é que Saul se suicidou (1Sm 31.4), e veio parar nas mãos dos homens de Jabes-Gileade (1Sm 31.11-13). Saul apenas passou pelas mãos dos filisteus. Infelizmente, o pseudo-Samuel não podia prever esse detalhe. (Vejam como são precisos os detalhes acima a respeito da pessoa de Cristo). b) Não morreram todos os filhos de Saul ("... tu e teus filhos", 1Sm 28.19), como insinua essa outra profecia obscura: Ficaram vivos pelo menos três filhos de Saul: Is-Bosete (2Sm 2.8-10), Armoni e Mefibosete (2Sm 21.8). Apenas três morreram, como indicam clara e objetivamente as passagens seguintes: 1Sm 31.2,6 e 1Cr 10.2,6.

c) Saul não morreu no dia seguinte ("... amanhã... estareis comigo", 1Sm 28.19): Esta é uma profecia do tipo délfico, ambígua. Saul morreu cerca de dezoito dias depois (ver 1Sm 30.1,10,13,17; 2Sm 1.3). Citar em sua defesa Gn 30.33 e Êx 13.14 e afirmar que a palavra hebraica mahar, "amanhã", aqui, é de sentido indefinido, é torcer o hebraico e a sua exegese, pois todos vão morrer, mesmo, em "algum dia" no futuro; isto não é novidade.

d) Saul não foi para o mesmo lugar de Samuel ("... estareis comigo", 1Sm 28.19). Outra profecia délfica. Interpretar o "comigo" por simples "além" (sheol), é tergiversar. Samuel estava no "seio de Abraão", sentia isso e sabia da diferença que existia entre um salvo e um perdido. Jesus também o sabia, e não disse ao ladrão na cruz: "...hoje estarás comigo no "além" (sheol), mas sim, no "Paraíso" (Lc 23.43). Logo, Samuel não podia ter dito a Saul, que este estaria no mesmo lugar que ele: no "seio de Abraão". Se Samuel tivesse desobedecido a Deus (1Sm 28.16-19), passaria para o inferno, para estar com Saul? Ou então, Saul, ainda que transgredindo a palavra de Deus e consultando à necromante (1Cr 10.13), passou para o Paraíso, para estar com Samuel? Inacreditável.

Solução: - Quem respondeu a Saul? Sugerimos a seguinte possível explicação. A Bíblia fala de certos "espíritos", sua natureza e seu poder (Êx 7.11,22; 8.7; At 16.16-18; 2Co 11.14-15; Ef 6.12). São os anjos maus. Do mesmo modo fala de anjos que acampam ao nosso redor e nos guardam (Sl 34.7; Mt 18.10; Lc 15.10 etc.). São os anjos bons. São dois, os "secretários" (senão mais) que nos acompanham durante a vida toda; um bom e outro mau. Anotam tudo e sabem tudo a nosso respeito. Depois da morte, o anjo bom leva o nosso livro-relatório, diante de Deus, pelo qual seremos julgados (Ap 20.12). Por sua vez, o anjo mau assume a nossa identidade e representa-nos no mundo, através dos médiuns. Onde revela o nosso relatório com acerto e "autoridade". É por isso que Paulo fala da luta que temos contra "as forças espirituais do mal" (Ef 6.12). E é pela mesma razão que Deus proíbe consultas aos "mortos" (Is 8.19,20), porque estes são falsos "Quando entrarem na terra que o Senhor, o seu Deus, lhes dá, não procurem imitar as coisas repugnantes que as nações de lá praticam. Não permitam que se ache alguém entre vocês que queime em sacrifício o seu filho ou a sua filha; que pratique adivinhação, ou se dedique à magia, ou faça presságios, ou pratique feitiçaria ou faça encantamentos; que seja médium, consulte os espíritos ou consulte os mortos. O Senhor tem repugnância por quem pratica essas coisas, e é por causa dessas abominações que o Senhor, o seu Deus, vai expulsar aquelas nações da presença de vocês. Permaneçam inculpáveis perante o Senhor, o seu Deus. As nações que vocês vão expulsar dão ouvidos aos que praticam magia e adivinhação. Mas, a vocês, o Senhor, o seu Deus, não permitiu tais práticas." (Dt 18.9-14) Caso fossem espíritos humanos, provavelmente, Deus não proibiria a sua consulta, apenas regulamentaria o assunto para evitar abusos. Deus, porém, proíbe o que é dissimulação e falsidade. (Bíblia Shedd pg 430-431)

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