quinta-feira, 18 de março de 2010

LOBO DISFARÇADO DE OVELHA

“Dois homens, aparentemente acima de qualquer suspeita, renderam uma família de classe média, no bairro Itaoca, no momento que se preparavam para pregar a ``Bíblia``.

Ao invés de salvação, rendição. No lugar da paz, armas apontadas para a cabeça e ameaças de morte, de acordo com o Boletim de Ocorrência (B.O.) registrado no 25º Distrito Policial, no bairro Montese.

Conforme a Polícia, os falsos pastores adentraram na residência duplex, na rua Dom Carloto Távora, vestidos com paletós e com bíblias nas mãos, por volta das 7 horas de ontem. A dupla chegou em uma moto e disse para os integrantes da família - evangélica - que faria uma pregação.

Ao serem convidados a entrar na residência, o assalto foi anunciado antes das primeiras palavras do Livro Sagrado. Segundo o relato da família na delegacia, os assaltantes trancaram as vítimas em um banheiro e passaram a revirar tudo que encontraram pela frente. De acordo ainda com a família, eles fugiram com joias e dinheiro.” (Jornal o povo 18/03/2010.)

Eu quero refletir nesta tragédia e explorar alguns conceitos do evangelho pós moderno e do evangelho de Jesus.

A sociedade dos evangélicos dita que para ser evangélico tem que fazer parte de uma instituição (denominação). Obedecer cegamente o líder desta instituição, sem reflexões, sem questionamentos. Em muitos casos para ser identificado como membro desse grupo tem que ter uma vestimenta, ou a maneira de falar, ou a imposição de voz ao orar peculiar ao grupo. Tem que ter experiências comuns.

Basta alguém ir com indumento peculiar ao grupo, falando com jargões sobre experiências que o grupo tem como verdadeira que certamente será bem aceito. Como foram doutrinados, as intenções não são questionadas, há necessidade de ouvir um guru falar de Deus, e trazer o “recado de Deus” para o grupo. E isso é explorado pelos espertalhões, mercadores e mercenários da fé. Agora até por assaltante com armas de fogo.

Eu também sofro com isso, domingo fui levar uma reflexão da palavra a um pequeno grupo em Aquiráz-CE, quando estava para sair minha esposa indagou! Você vai com essa roupa? ( Calça Jeans, camisa pólo e sandália de couro) Respondi sim! Ela falou que eu ia escandalizar alguns e podia barrar o que estávamos propondo. E que o apóstolo Paulo falou que se portai de modo a não causar escândalos. Eu deveria me portar como ele. Então vesti calça, camisa e sapatos social e fui para o calor escaldante, representar a AD e seguir a mesma liturgia. ( Mais foi a última vez, ao invés de discurso vou passar mais tempo lá, conversando, para que ele aprendam por comigo estar. Afinal não quero ser rotulado por nenhum grupo, sou livre para me expressar e para agir conforme minha consciência.)

Outra marca do evangelho pós moderno é que o evangelho do discurso sem prática. E da prática sem o Espírito. E do esforço da retórica para provar que é o tal, que têm a unção. Os líderes deste evangelho são gladiadores televisivos. A cada entrevista mais parece um programa do ratinho onde a baixaria têm proeminência. Negam o nome de Jesus que pregam na prática onde não vemos os frutos do Espírito: o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade, a mansidão, o domínio próprio.

O evangelho de Jesus é da prática, da simplicidade, sem o farisaísmo, sem o saduceísmo Jesus era o cumprimento da lei. Ele ensinou que era pelos frutos que separaria as ovelhas dos lobos. Não era pelo discurso e nem pelos sinais e milagres.

Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores. Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos; porém a árvore má produz frutos maus. Uma árvore boa não pode dar maus frutos; nem uma árvore má dar frutos bons. Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.” (Mt 7: 16-23)

O nosso desafio é transformar nosso discurso em prática. A grande tarefa nossa como discípulo de Cristo é “fazer Cristo conhecido através de nossa vida”. Esta tarefa requer que vivamos diante de uma ética de vida que sirva de modelo para os outros. Somos luz e sal, devemos nos submeter a Cristo em todas as áreas da vida. Devemos fazer discípulos não pela retórica, não pelo sinais , mas de viver. Como não somos perfeitos, constantemente devemos fazer como Paulo “Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à submissão, para que, depois de pregar a outros, eu mesmo não venha a ficar reprovado”.(ICor 9:27)

“Porque seguimos a Jesus e não a Buda? a Confúcio? a Maomé? ” Sem duvida o seguimos porque Ele é o filho de Deus, comportou - se como o filho de Deus e viveu como filho de Deus etc... Ele vivenciou sua identidade. Ele fez discípulos caminhando com lado a lado com eles. A palavra discípulo, no original significa aluno. Fazer discípulo e acompanhar, instruir e acima de tudo capacitar. Fazer cem mil convertidos, acomodados é diferente de fazer cem mil discípulos com visão do reino e participante da obra. O cristianismo ainda não se expandiu por todo mundo porque fez muitos convertidos e poucos discípulos. Mas segundo Mateus as últimas palavras de Jesus foi: “E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. “( Mateus 28: 18-20)

No evangelho atual existe a idéia de uma hierarquia espiritual entre os homens. Tem que convidar alguém de fora com “unção” para trazer umas boas novas. Agora a comunidade de fé não conhece a vida e os frutos daquele que está vindo pregar e nem que tipo de mensagem ele traz. Será ovelha ou lobo? A maioria cobra para trazer seu recado. Mas a bíblia nos adverte: “Ora, vós tendes a unção da parte do Santo, e todos tendes conhecimento... E quanto a vós, a unção que dele recebestes fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como vos ensinou ela, assim nele permanecei.’(I Jo 20; 27)

O Evangelho de Jesus é belo, e de caminhada, e de vida, e de exemplos. Quem quiser seguir outro tipo de evangelho pode está abrindo a porta para lobos devoradores. Ele disse: Eu sou a porta; se alguém entrar a casa; o filho fica entrará e sairá, e achará pastagens. O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas. Mas o que é mercenário, e não pastor, de quem não são as ovelhas, vendo vir o lobo, deixa as ovelhas e foge; e o lobo as arrebata e dispersa. Ora, o mercenário foge porque é mercenário, e não se importa com as ovelhas. Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas. (Jo 9-15) Você conhece a voz de Jesus?

Marcos Avelino – O Marcão

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