quarta-feira, 5 de maio de 2010

SOBRE LIDERANÇA E ADMINISTRAÇÃO (Parte II)

HISTÓRICO DA ADMINISTRAÇÃO ECLESIÁSTICA

Acredito que a igreja primitiva não tinha um sistema eclesiástico definido. Era uma combinação do sistema presbiteriano com o congregacional. As igrejas naquela época tinham forma de governo diferenciada como hoje, mas em todo os casos a igreja era participativa.

A palavra igreja “ekklesia” no grego, era uma assembléia de cidadãos convocados para uma reunião administrativa. Era a reunião dos “eklectoi”, reunidos para discutir assuntos políticos do estado. “ekklesia” deriva do verbo “ekkaleo” que significa chamar a parte.

“Ekklesia” era uma assembléia legal, numa cidade grega, formada por todos que tivessem direito de cidadania (chamado a parte) para tratar de assuntos públicos.

Para uso do cristianismo poderíamos dizer que “ekklesia” é a reunião de crentes, organizados para manutenção das atividades normais da vida cristã, ( doutrina, ordenança, administração) tendo comunhão entre si e com Cristo.

Tanto no sistema presbiteriano como no congregacional temos uma ekklesia participativa nas decisões tomadas.

A “ekklesia” do novo testamento era um grupo organizado que estava ativamente engajado no comprimento da grande comissão. Dessa organização apenas Cristo era o cabeça. Os crentes mantinham comunhão uns com os outros e com Cristo.

1 – SISTEMAS ECLESIÁSTICOS NA IGREJA PRIMITIVA

A igreja primeiramente parecia ser um corpo auto governante e o sistema eclesiástico era semelhante ao congregacional. Os novos líderes eram escolhidos pelos membros, entre os homens capacitados pelo Espírito. Os líderes eram ordenados pelos apóstolos. Vejamos as primeiras ações administrativas na igreja de Jerusalém.

A chamada para o ministério era feita em três dimensões:

a) interna – O Espírito capacitava com dons.

b) externa – A igreja escolhia por voto democrático.

c) ordenança – Os apóstolos ordenavam ao exercício

ministerial.

Não havia um corpo especial de líderes diferenciados dos leigos, pois todos eram sacerdotes com acesso direto a Deus através de Cristo.

As igrejas escolheram seus anciãos ( presbíteros), depois de orarem com jejuns, buscando a orientação do Espírito Santo e de comum acordo com os apóstolos (At 14:23). As igrejas também escolheram representantes para levarem ajuda as igrejas necessitadas em período de crise. (At 11:27-30;I Co 16:3;II Co 9:1-5)

Para manutenção da pureza doutrinária, reuniu-se em Jerusalém o primeiro presbitério (At 15: 6-29). Um sistema semelhante ao presbiteriano nasceu para proteger a igreja contra as falsas doutrinas e contra a ameaça do legalismo. (At 15:6-29; At 20:20-30; Tt 1:5-16). O governo da igreja neste período passou a ser uma junta de anciãos ( pastores e presbíteros) que administravam as congregações locais, tendo os diáconos como auxiliares administrativos. A supervisão geral ficava com os apóstolos.

Não encontro base bíblica para o sistema episcopal, mas algumas literaturas extra bíblica nos fornecem alguns dados importantes. Dizer que Pedro foi o primeiro bispo, contradiz o conceito de bispo monárquico. Foi Tiago e não Pedro que assumiu a posição de liderança no concílio de Jerusalém (At 15: 13,19). Paulo resistiu a Pedro face a face ( Gl1:11). “Os bispos quando citados na bíblia, formavam uma junta de oficiais da congregação local (Fl 1:1)”

Entre os anos 100 e 313 a igreja sofria forte perseguição externa e problemas internos com ensinos heréticos. Surgiu neste período, como garantia da unidade doutrinária da igreja, a obediência aos bispos monárquicos. Esta foi uma estratégia administrativa da igreja para manter a unidade doutrinária.

Inácio , pai apostólico, bispo de Antioquia na Síria, viveu no século II A.D, foi grande defensor do episcopado. Nas cartas de Inácio, há evidências precisas que em cada igreja um presbítero tinha se tornado um bispo monárquico ao qual os outros presbíteros deviam obedecer. Segundo Inácio, em sua epístola aos Trálios capítulo 3, a hierarquia de autoridade da igreja é: bispo, presbíteros e diáconos. E sem esta ordem não haveria igreja.

Escolher um apóstolo para substituir Judas Iscariotes foi a primeira ação administrativa da igreja (At 1: 15-26). Foi uma escolha democrática e com orações (At 1: 24-26). A igreja cresceu e precisou de mais líderes para ajudar na administração, então escolheram os diáconos (At 6: 1-7). Esta escolha não foi feita por indicação hierárquica, mas democraticamente pela “comunidade dos discípulos”, ou seja a igreja.

pais da igreja ocidental como Clemente, Irineu e Cipriano defendiam que a sucessão apostólica na hierarquia promoveria a unidade e era uma garantia contra o cisma. Essa estratégia administrativa segundo Inácio e Irineu, seria a melhor maneira contra as heresias e manteria a verdadeira doutrina.

O episcopado que nasceu como estratégia administrativa contra as heresias, verticularizou a estrutura organizacional da igreja, e paulatinamente virou formador de heresias. A política começou a fazer parte da sucessão apostólica, os bispos de cidades mais importantes passou a ter superioridade sobre os outros bispos. Desenvolveu a doutrina do primado de Pedro. A igreja passou a funcionar como exército da fé e aos poucos foi perdendo a noção de comunidade. A ekklesia deixou de ser participativa e surgiu a diferenciação entre clero e leigos. Começou a haver disputa por posições hierárquicas.

2 - DIVISÃO FUNCIONAL DA IGREJA PRIMITIVA

A divisão funcional dos líderes na igreja primitiva podiam ser classificados em duas classes: os líderes carismáticos e os líderes administrativos.

1) Líderes carismáticos

Tinham por função a proclamação e preservação das verdades do evangelho. Eram escolhidos por Cristo, através da ação do Espírito Santo, para exercer liderança na igreja. Vejamos o texto de efésios 4:11

“E Ele mesmo concedeu uns para apóstolo, outros para profetas, outros para evangelistas e outro para pastores e mestres”.

a) apóstolos – eram supervisores da igreja primitiva, e reunia em seu ministério as funções exercidas por vários líderes.

b) profetas – eram os que proclamavam a palavra de Deus.

c) evangelistas – eram os que anunciavam as boas novas em locais ainda não atingidos (At 21:8)

d) pastor – mestre – eram os que tinham a responsabilidade de ensinar e cuidar da maturidade dos crentes.

No didaquê, o livro das doutrinas dos apóstolos, no capítulo 10:7 e no capítulo 11: 1-12 tem bons ensinamentos sobre os ofícios citados acima.

2) Líderes administrativos

Tinham por função exercer tarefas administrativas dentro das igrejas locais. Eram escolhidos democraticamente com consenso de toda igreja. Estes líderes tinham seus serviços ligados a congregação local. Surgiram quando a igreja cresceu e os apóstolos sobrecarregados tiveram que dividir funções. São eles:

a) anciãos (presbuteros) e bispos (episkopos) era o mesmo ofício (At 20:17; Fp 1:1; Tt 1:5-7). A separação veio no segundo século com o surgimento do bispo monárquico. Os presbíteros dirigiam os cultos públicos (I Tm5:17; Tt 1:9) e eram responsáveis pela administração e pela a disciplina da igreja local.(At 20:20; I Tm 5:17; I Pe 5:1-6).

b) diáconos (diakonos) era aquele que governava e servia. Tinha atuação funcional subordinada a dos presbíteros. A execução de serviços na igreja era a sua principal função ( distribuir ceias as viúvas, distribuição de elementos da santa ceia, recolhimentos de ofertas, etc...).

Até a próxima

Marcos Avelino – O Marcão

Bibliografia.

ADOLF DEISSMAN, Paul, a study in social and religious history, Londres, Hodder and Sloughton, 1962 ap.I)

CAIRNS, Earle E., O cristianismo através dos séculos, Vida Nova, São Paulo, 1995

GRENZ, Stanley J, Pós modernismo, Vida Nova, São Paulo, 1997

OLIVEIRA, Raimundo, eclesiologia, ler As grandes doutrinas da bíblia, CPAD, Rio de janeiro, 1987 v./ pp 249-284

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